O estudo conduzido por Carley et al., publicado em Anestesia Regional e Medicina da Dor (2025), oferece a primeira avaliação abrangente da dosagem de mepivacaína para raquianestesia em pediatria cirurgia ortopédica. Esta revisão retrospectiva de mais de 3,200 casos representa um avanço significativo na adaptação de abordagens anestésicas às necessidades fisiológicas únicas de crianças e adolescentes.
Raquianestesia é uma técnica estabelecida na prática adulta e, cada vez mais, no atendimento pediátrico. No entanto, até o momento, não existiam diretrizes para o uso de mepivacaína — um anestésico local de ação intermediária amplamente utilizado — para anestesia raquidiana pediátrica, especialmente em pacientes de 5 a 18 anos. Este estudo preenche essa lacuna de conhecimento com insights sobre dosagem específica para idade e peso, que podem refinar o cuidado anestésico em ambientes pediátricos ambulatoriais.
Por que Mepivacaína?
Tradicionalmente, A bupivacaína tem sido o agente de escolha para anestesia raquidiana pediátrica devido à sua longa duração e perfil de segurança estabelecido em lactentes. No entanto, seu efeito prolongado pode ser uma limitação em cirurgias ambulatoriais, especialmente em crianças mais velhas e adolescentes.
Principais vantagens da mepivacaína:
- Duração de ação intermediária: Reduz o risco de deambulação retardada e retenção urinária.
- Recuperação mais rápida: facilita a alta mais rápida, melhorando a produtividade nos centros cirúrgicos.
- Perfil de alta mais seguro: oferece duração suficiente para a maioria dos procedimentos ortopédicos pediátricos sem sedação prolongada ou bloqueio motor.
Apesar desses benefícios e de décadas de uso seguro em adultos, a mepivacaína tem sido subutilizada em pediatria devido à falta de diretrizes de dosagem. O estudo de Carley et al. aborda diretamente essa lacuna.
Visão geral do estudo
- Desenho do estudo: Revisão retrospectiva de prontuários.
- Cenário: Hospital de Cirurgia Especial (HSS), Cidade de Nova York.
- Período de estudo: janeiro de 2016 – maio de 2022.
- População: Pacientes pediátricos (de 5 a 18 anos) submetidos a cirurgia ortopédica de membros inferiores.
- Total de casos analisados: 3,267 anestésicos raquidianos de dose única usando mepivacaína a 1.5% sem conservantes.
- Critério de inclusão:
- Uso de mepivacaína espinhal como agente único (1.5%) sem adjuvantes.
- Dados demográficos e detalhes cirúrgicos do paciente documentados.
- Somente procedimentos ortopédicos de membros inferiores.
Padrões de dosagem baseados na idade: o que os dados mostram
Uma das descobertas mais importantes do estudo é a relação inversa entre a dose de mepivacaína (mg/kg) e a idade do paciente.
- Crianças mais novas necessitaram de doses maiores por quilograma, o que reflete em uma eliminação mais rápida do anestésico local.
- A dosagem atingiu um platô por volta dos 15 anos, sugerindo uma estabilização das necessidades farmacodinâmicas no final da adolescência.
- O volume total (em mL) aumentou com a idade, mas a dosagem ajustada ao peso diminuiu — uma descoberta alinhada com as tendências existentes na literatura sobre dosagem de bupivacaína e ropivacaína.
Ajustes específicos do procedimento
O estudo também descobriu que a dosagem de mepivacaína variou ligeiramente de acordo com o local cirúrgico e a duração do procedimento:
- As cirurgias de quadril geralmente recebem mais volume do que os procedimentos de joelho ou pé/tornozelo.
- Cirurgias mais longas foram correlacionadas com doses totais mais altas, mas todas dentro de limites seguros (abaixo de 5–6 mg/kg).
Isso sugere que, embora exista uma estrutura geral de dosagem baseada na idade, ajustes de dose diferenciados são frequentemente guiados pelas demandas do procedimento e pela duração prevista da anestesia.
Anestesia e métricas cirúrgicas
Estatísticas processuais:
- Duração média da cirurgia: 112 minutos (IQR: 81–143).
- Permanência na UCPA: Mediana de 207 minutos.
- Tempo entre o final da cirurgia e a saída da sala de cirurgia: 7 minutos.
É importante ressaltar que essas métricas mostram que a mepivacaína forneceu cobertura suficiente para procedimentos que muitas vezes excediam a janela raquidiana de 60 a 90 minutos tradicionalmente citada em crianças.
Perfil de segurança e taxas de conversão
O resultado de segurança mais impressionante foi a baixa taxa de conversão para anestesia geral:
- A colocação de vias aéreas ocorreu em apenas 1.3% dos casos, abrangendo dispositivos supraglóticos e endotraqueais.
- Essas conversões nem sempre ocorreram devido à insuficiência da coluna — algumas foram por necessidade de sedação ou suporte das vias aéreas.
Não foram registradas complicações significativas ou overdoses, e todas as doses observadas permaneceram bem abaixo do limite de 5–6 mg/kg recomendado pela FDA para injeções caudais de dose única.
Preferências comparativas de agentes por idade
Os pesquisadores também avaliaram como a seleção do agente anestésico variou com a idade:
- <10 anos: Bupivacaína predominou.
- 10–14 anos: A mepivacaína se tornou mais comum.
- >14 anos: A mepivacaína permaneceu dominante, com uso crescente de cloroprocaína.
Essa tendência dependente da idade dá suporte à tomada de decisões clínicas que equilibram a duração do procedimento, o tempo de recuperação previsto e a fisiologia do paciente.
Limitações
Apesar dos pontos fortes do estudo em termos de tamanho e clareza, existem várias limitações:
- Design retrospectivo: limita o controle sobre variáveis de confusão e viés de seleção de pacientes.
- Tempo de resolução não medido diretamente: recuperação inferida a partir do tempo de PACU, que é influenciado por múltiplos fatores não anestésicos.
- Dados específicos da instituição: O HSS tem uma cultura única de uso de anestesia neuroaxial, que pode não ser generalizável a todas as instituições.
Pesquisas prospectivas futuras podem solidificar a dosagem ideal e avaliar a utilidade da mepivacaína em instituições e cenários cirúrgicos mais amplos.
Implicações para a prática clínica
Os resultados deste estudo podem influenciar a prática anestésica pediátrica de várias maneiras importantes:
- Suporte para uso rotineiro em crianças > 5 anos:
A mepivacaína surge como uma alternativa prática, segura e eficaz para anestesia raquidiana em crianças mais velhas e adolescentes, especialmente em ambientes ambulatoriais onde a recuperação rápida é fundamental.
- Diretrizes baseadas em idade e peso:
Os médicos agora têm uma estrutura de dosagem:
- 5–8 anos: ~1.5–1.7 mg/kg
- 10–13 anos: ~1.0–1.2 mg/kg
- 15–18 anos: ~0.8–0.9 mg/kg
- Incentivo à anestesia personalizada:
Este estudo ressalta a importância da dosagem individualizada, integrando idade, peso e fatores processuais do paciente, em vez de depender apenas de fórmulas fixas de dose por peso.
Conclusão
Esta extensa revisão de prontuários fornece um modelo muito necessário para a integração da mepivacaína em protocolos de raquianestesia pediátrica. À medida que os anestesiologistas buscam agentes de ação mais curta e de fácil recuperação em um ambiente cirúrgico acelerado, a mepivacaína oferece o equilíbrio certo entre eficácia e segurança para crianças mais velhas e adolescentes.
Com dados detalhados, específicos de idade e peso, agora disponíveis, os médicos podem incorporar com confiança esse agente de ação intermediária em seu kit de ferramentas de anestesia raquidiana, melhorando os resultados, minimizando complicações e alinhando-se à crescente pressão por recuperação rápida em cirurgia ambulatorial pediátrica.
Principais tópicos:
- A dosagem ajustada à idade garante segurança e eficácia.
- Baixas taxas de complicação e conversão validam a viabilidade.
- Agentes de ação mais curta, como a mepivacaína, podem melhorar os resultados perioperatórios pediátricos.
Implicações clínicas:
A mepivacaína pode em breve se tornar um agente preferencial para anestesia raquidiana em cirurgias ortopédicas ambulatoriais pediátricas, proporcionando um equilíbrio ideal entre duração da anestesia e recuperação rápida.
Para mais informações, consulte o artigo completo em Anestesia Regional e Medicina da Dor.
Carley M et al. Dosagem de mepivacaína para raquianestesia em cirurgia ortopédica pediátrica: uma revisão retrospectiva de prontuários. Reg Anesth Pain Med. 2025 de março de 5;50:264-270.
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